Ultimamente muitas pessoas parecem estar cansadas de
ouvir a palavra da cruz. Entretanto, agradecemos e louvamos a Deus Pai por Ele ter
reservado para Seu próprio nome muitos fiéis que não dobraram os joelhos a
Baal. Todavia, sinto que há algo que os fiéis servos de Cristo devem conhecer.
Por que, após haverem labutado tanto na pregação a respeito da cruz, os
resultados têm sido tão desencorajadores e as pessoas não têm tido muita
mudança em sua vida após ouvir a verdadeira Palavra de Deus? Penso que esse
problema é digno da nossa maior atenção. Nós, que laboramos pelo Senhor devemos
entender por que os outros não são subjugados pelo evangelho que pregamos.
Espero que possamos orar calmamente diante do Senhor e pedir que o Espírito de
Deus ilumine nosso coração a fim de sabermos onde se encontra nossa falha.
No tempo presente, deveríamos atentar à palavra que
pregamos. Não precisamos mencionar os que pregam o falso evangelho. A crença
deles de qualquer forma está errada. O que pregamos é a crucificação do Senhor
Jesus Cristo e como ela salva os pecadores da condenação do pecado e do poder
do pecado. Ao pregar, damos muita atenção ao esboço, à lógica e ao pensamento.
Fazemos o melhor que podemos para tornar nosso falar claro. Dessa forma, mesmo
a pessoa mais iletrada pode entender. Também damos atenção à psique do homem e
empenhamo-nos o máximo em nossa eloqüência para corresponder ela. O que
pregamos é verdadeiro e bíblico: o nosso tema é a cruz do Senhor Jesus. Sabemos
que o Senhor Jesus morreu pelos pecadores na cruz para que todo o que Nele crê
seja salvo à parte de qualquer obra. Também sabemos que a crucificação do
Senhor Jesus não visa somente a substituição, mas também a crucificação do
pecador e juntamente com ele seu pecado. Conhecemos a maneira de ser salvos.
Sabemos como morrer com o Senhor, como aplicar a morte do Senhor pela fé e como
morrer com Ele a fim de lidar com o pecado e o ego. Também temos clareza acerca
de outras doutrinas afins na Bíblia. A nossa pregação é apresentada de maneira
exata e clara para que qualquer dos ouvintes possa compreendê-la. Os ouvintes
prestam muita atenção a nós quando pregamos a cruz do Senhor; eles gostam dela
e são tocados por ela. Podemos mesmo ser dotados de eloqüência e ser aptos a
apresentar a verdade de modo persuasivo. Podemos pensar que nossa obra é muito
eficaz! Sob tais circunstâncias, deveríamos ver muitas pessoas recebendo vida e
muitos crentes ganhando a mais abundante vida. Entretanto, os resultados são
contrários ao que esperamos. Embora os ouvintes sejam tocados no local de
reunião, eles não ganham qualquer coisa que esperávamos vê-los ganhar após
deixar o local de reunião, muito embora as palavras ainda estejam frescas na
mente deles. Eles não têm qualquer mudança em sua vida. Entendem o que
pregamos, mas isso não tem qualquer influência em seu viver diário. Apenas armazenam
no cérebro a palavra pregada. Eles não a aplicam no coração.
Uma possível explicação para isso é que o que você
possui é apenas eloqüência, palavras e sabedoria. É como se atrás de suas
palavras não houvesse o poder que toca o coração das pessoas. Você tem as
melhores palavras e a melhor voz, contudo atrás das palavras e da voz você não
tem o tipo de poder que "controla" a vida das pessoas. Em outras
palavras, você pode fazer com que as pessoas ouçam-no atentamente no local de
reunião, mas o Espírito Santo não coopera com você. Portanto, seu labor é ineficiente
e não produz resultados duradouros. Suas palavras não conseguem deixar marca
duradoura na vida das pessoas. Apesar de da sua boca fluírem palavras, de seu
espírito não flui vida para alimentar, levantar e vivificar os ouvintes que
perecem.
Nos últimos anos, o Senhor tem-me dito para ser
cuidadoso quanto a esse tipo de pregação. Não almejamos ser oradores populares
(nosso Senhor é doador de vida). Nós almejamos ser canais de vida, conduzindo-a
para dentro do coração das pessoas. Ao pregar a cruz, deveríamos ter a vida da
cruz fluindo para a vida de outros. A coisa mais lamentável a meu ver é que,
embora muitos preguem a cruz hoje, as pessoas não têm ganhado a vida de Deus.
Elas parecem concordar com nossas palavras e recebem-na alegremente; contudo,
não têm recebido a vida de Deus. Muitas vezes, enquanto pregamos a morte
substitutiva da cruz, os homens parecem entender o significado e o porquê da
substituição, e ser tocados no momento. Entretanto, não podemos ver a graça de
Deus operando nos ouvintes a ponto de, verdadeiramente, obterem a vida
regenerada. Pregamos também a co-crucificação e a explicamos de maneira bem
clara e comovente. No momento em que as pessoas ouvem, podem orar e decidir-se
a morrer juntamente com o Senhor e a ganhar as experiências de vencer o pecado
e o ego. Mas após tudo haver terminado, não as vemos ganhar a mais abundante
vida de Deus. Tais resultados entristecem-me muito. Isso faz com que me humilhe
diante do Senhor a fim de buscar a Sua luz. Se tiver a mesma experiência que
eu, espero que você se contriste diante do Senhor como eu e arrependamo-nos das
nossas faltas. O que nos falta de fato no momento são homens e mulheres que
preguem a cruz, contudo o que mais necessitamos além disso são pregadores que
preguem a cruz no poder do Espírito Santo.
Leiamos agora a Palavra de Deus. Paulo disse:
"Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus,
não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber
entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e
grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do
Espírito e de poder" (1 Co 2:1-4). Nesses versículos vemos três coisas: 1)
a mensagem que Paulo pregou; 2) a pessoa do próprio Paulo, e 3) a maneira com
que Paulo pregou sua mensagem.
A MENSAGEM PREGADA POR PAULO
A mensagem que Paulo pregou foi o Senhor Jesus
Cristo, e este crucificado. O assunto da sua pregação foi a cruz de Cristo e o
Cristo crucificado. Ele nada sabia exceto isso. Se esquecermos da cruz e não
fizermos dela e de Cristo nosso único assunto, quanto nós e nossos ouvintes
iremos perder! Creio que certamente não somos dos que não pregam a cruz.
A nossa mensagem e assunto podem ser bons.
Todavia, não temos a experiência de ter uma mensagem
boa e, ainda assim, ser incapazes de dispensar vida a outros? Deixe-me
ressaltar que uma vez que a mensagem que pregamos é importante, se ela não pode
dar vida a outros, a nossa obra é quase totalmente vã. Deveríamos lembrar que o
objetivo da nossa obra é dar vida às pessoas. Pregamos a morte substitutiva da
cruz para que Deus dê a Sua vida aos que crêem. Se as pessoas são incitadas ou
estimuladas ou até se arrependem e concordam com o que pregamos, mas não têm a
vida de Deus nelas, de que adiantará
isso? Elas podem
mostrar-se simpáticas
exteriormente, mas não são salvas. Portanto, a nossa meta não é fazer as
pessoas se arrependerem por si mesmas nem influenciá-las em sua mente, mas
dispensar a vida de Deus a elas para que tenham vida e sejam salvas. Até mesmo
ao pregar as verdades mais profundas ou tentar ajudar outros a compreender a
verdade sobre a co-crucificação, o mesmo princípio permanece verdadeiro. É
fácil fazer com que as pessoas saibam e entendam o que pregamos. Também
não é
difícil fazer com que outros
aceitem nossos ensinamentos em sua mente. Qualquer cristão com um pouco de
conhecimento pode entender se você lhe explicar os assuntos de modo
suficientemente claro. Entretanto, se desejar que ele ganhe vida e poder e que
experimente o que você prega, não existe outro caminho a não ser o de Deus
dispensar a mais rica vida a ele, por seu intermédio. Deveríamos saber que
nossa única obra é ser canais da vida de Deus, comunicando vida ao espírito dos
outros. Portanto, mesmo que o assunto ou a mensagem que pregamos sejam bons,
ainda necessitamos descobrir se somos ou não canais adequados para Deus
transmitir vida ao interior das pessoas.
O PRÓPRIO PAULO
A mensagem pregada por Paulo era a cruz do Senhor
Jesus Cristo. A sua mensagem não era em vão, pois ele era um vivo canal de
vida. Ele gerou muitos por meio do evangelho da cruz. O que ele pregava era a
palavra da cruz. Sobre ele mesmo, disse que estava "em fraqueza, temor e
grande tremor". Ele era um homem crucificado! Somente um homem crucificado
pode pregar a palavra crucificada. Ele não tinha confiança em si próprio e não
confiava em si mesmo. Fraqueza, temor, tremor, ser esvaziado da autoconfiança,
considerar-se totalmente inútil: essas são as características de um homem
crucificado. Ele disse: "Estou crucificado com Cristo" (Gl 2:19b) e
"Dia após dia, morro!" (1 Co 15:31). Somente um Paulo morto poderia
pregar uma palavra sobre crucificação. Se não houvesse morrido de modo real, a
vida da morte do Senhor não poderia ter fluído dele. É fácil pregar a cruz, mas
não é fácil pregá-la como um homem crucificado. A não ser que alguém seja uma
pessoa crucificada, ele não pode pregar a palavra da cruz e não pode dar a outros
a vida da cruz. Rigorosamente falando, a não ser que alguém conheça a cruz, na
experiência, ele não é digno de pregar a cruz.
A MANEIRA COMO PAULO PREGOU SUA MENSAGEM
A mensagem de Paulo era a crucificação. Ele próprio
era um homem crucificado e pregou a cruz à maneira da cruz. Era um homem da
cruz, pregando a mensagem da cruz com o espírito da cruz. Muitas vezes o que
pregamos é a cruz, mas a nossa atitude, as nossas palavras e nosso sentimento
não dão a impressão de que pregamos a cruz! Muitas pregações sobre a cruz não
são feitas no espírito da cruz! Paulo disse: "Eu (...) fui ter convosco,
anunciando-vos o testemunho (mistério)[1]
de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria". Aqui o
mistério de Deus refere-se à palavra da cruz. Paulo não pregou a cruz com
excelência no falar ou sabedoria. "A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do
Espírito e de poder". Esse é o Espírito da cruz. A cruz é sabedoria para
Deus, mas loucura para o homem. Ao pregar a palavra dessa loucura, deveríamos
ter a aparência de "loucura", a atitude de "loucura" e o
falar de "loucura". Paulo obteve a vitória porque era de fato um
homem crucificado. Ele pregava a cruz com o espírito da cruz e a atitude da
cruz. Os que não têm experimentado a crucificação não serão preenchidos com o
espírito de crucificação, e não são dignos de pregar a palavra da cruz.
Após ver a experiência de Paulo, não nos diz ela a
razão de nossas falhas? A mensagem que pregamos pode ser boa, mas deveríamos
examinar-nos à luz do Senhor: somos realmente homens crucificados? Com que tipo
de espírito, palavra e atitude pregamos a cruz? Possamos humilhar-nos diante
dessas questões para que Deus tenha misericórdia de nós.
Não nos referimos aos que pregam um "evangelho
diferente". Falamos apenas acerca dos que pregam "o evangelho da
graça de Deus". A palavra não é incorreta, nossa mensagem não é má;
todavia, por que os outros não ganham vida? Isso deve ser por causa da falha do
pregador! É a pessoa que está errada, e não a palavra que perdeu o poder.
É o homem que tem obstruído o fluir da vida de Deus,
e não a Palavra de Deus que tem perdido a eficácia. Quando o homem que prega a
cruz não possui, ele mesmo, a experiência da cruz nem o espírito da cruz, não
pode dispensar aos outros a vida da cruz. Não podemos dar a outros o que não
temos. Se a cruz não se torna a nossa vida, não podemos dar a vida da cruz a
outros. A deficiência do nosso serviço advém de gostar de dar a cruz a outros
sem perceber que não a temos em nós. Os que são bons em pregar a outros, devem
ser bons em pregar primeiro a si mesmos. Caso contrário, o Espírito não
cooperará com eles.
Embora a mensagem que pregamos seja importante, não
devemos enfatizar demais a mensagem e esquecer de nós mesmos. Podemos obter
algum conhecimento dos livros sobre a palavra da cruz que pregamos. Podemos
utilizar a mente buscando os seus muitos significados na Bíblia. Entretanto,
todos eles serão emprestados; eles não nos pertencem. Os que têm mente esperta
são mais perigosos que os demais. Um pregador pode colocar-se em maior perigo
que outros, pois todo o estudo, leitura, pesquisa e ouvir pode ter sido feito
para os outros e não para si mesmo. Ele pode laborar para os outros
simplesmente para encontrar-se espiritualmente faminto! Podemos ouvir palavras
profundas sobre os vários aspectos da cruz ou ler livros sobre os significados
da substituição e co-crucificação. Se tivermos mente esclarecida, podemos mesmo
ordenar adequadamente esses ensinamentos, de modo que, ao falar, desenvolvamos
as coisas que ouvimos e pensamos de maneira muito clara e sincera, tendo tudo
bem organizado e todos os pontos apresentados com clareza e os argumentos
divididos nitidamente. Podemos levar os ouvintes a pensar que entenderam
tudo. Contudo, a despeito do fato de que
tenham entendido tudo, não há um poder motivador que faça com que busquem
ganhar o que compreenderam. Eles parecem pensar que entender as doutrinas da
cruz seja suficiente. Eles param nas coisas que entenderam e não buscam obter o
que a cruz lhes promete dar. Mesmo que o orador entenda o pensamento dos
ouvintes, tenha voz audível e sincera, e insista que não tomem somente a
doutrina, mas busquem ter a experiência, seus ouvintes podem ser incitados
apenas naquele momento. Eles ainda não receberam vida; ainda têm somente a
teoria, e não a experiência. Nunca devemos estar satisfeitos com nós mesmos e
achar que a nossa língua "de prata" pode manobrar os ouvintes. Eles
podem ficar emocionados no momento, contudo serão apenas considerações ou
doutrinas que temos de dar-lhes? Ou precisamos dar-lhes vida? Sem dar vida ao
homem, em nada contribuímos para sua espiritualidade. Qual é o proveito de dar
ao homem somente considerações ou doutrinas? Que esse conceito seja
profundamente incutido em nosso ser para que nos arrependamos da inutilidade da
nossa obra passada!
A razão por que ninguém ganha vida pela nossa
pregação da cruz é que: 1) nós mesmos não temos a experiência da cruz, e 2) não
fazemos uso do espírito da cruz para pregar a palavra da cruz.
(Mensagem
pregada por Watchman Nee em Kulongsu, Amoi, em 15 de janeiro de 1926, Extraída
do livro A CRUZ)
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