O período em que vivemos bem pode passar à história
como a Era Erótica. O amor sexual foi elevado à posição de culto. Eros tem mais
cultuadores entre os homens civilizados de hoje do que qualquer outro deus.
Para milhões o erótico suplantou completamente o espiritual.
Não é difícil verificar como o mundo chegou a este
estado. Entre os favores que contribuíram para isso estão o fonógrafo e o
rádio, que podem difundir canções de amor de costa a costa sem problema de dias
ou de ocasiões; o cinema e a televisão, que possibilitam a toda a população
focalizar mulheres sensuais e jovens amorosos ferrados em apaixonado abraço (e
isto nas salas de estar de lares "cristãos" e diante dos olhos de
crianças inocentes!); jornada de trabalho mais curta e uma multiplicidade de
artefatos mecânicos com o resultante aumento do lazer para toda gente.
Acrescentem-se a isso tudo as dezenas de campanhas publicitárias astutamente
idealizadas, que fazem do sexo a isca não muito secretamente escondida para
atrair compradores de quase todos os produtos imagináveis; os corruptos
colunistas que consagraram a vida à tarefa de publicar fofas e sorrateiras
nulidades com rostos de anjos e com moral de gatas da rua; romancistas sem
consciência, que conquistam fama duvidosa e se enriquecem graças ao trabalho
inglório de dragar podridões literárias das imundas fossas das suas almas para
dar entretenimento às massas. Estas coisas nos dizem algo sobre a maneira pela
qual Eros conseguiu seu triunfo sobre o mundo civilizado.
Pois bem, se esse deus nos deixasse a nós, cristãos,
em paz, eu por mim deixaria em paz o seu culto. Toda a sua esponjosa e fétida
sujeira afundará um dia sob o seu próprio peso e será excelente combustível
para as chamas do inferno, justa recompensa recebida, e que nos enche de
compaixão por aqueles que são arrastados em sua ruinosa voragem. Lágrimas e
silêncio talvez fossem melhores do que palavras, se as coisas fossem
ligeiramente diversas do que são. Mas o culto de Eros está afetando gravemente
a igreja. A religião pura de Cristo que flui como rio cristalino do coração de
Deus está sendo poluída pelas águas impuras que escorrem de trás dos altares da
abominação que aparecem sobre todo monte alto e sob toda árvore verde, de Nova
Iorque a Los Angeles.
Sente-se a influência do espírito erótico em toda
parte quase, nos arraiais evangélicos. Grande parte dos cânticos de certos
tipos de reuniões têm em si maior porção de romance do que do Espírito Santo..
Tanto as palavras como a música se destinam a provocar o libidinoso. Cristo é
cortejado com uma familiaridade que revela total ignorância de quem Ele é. Não
é a reverente intimidade do santo em adoração, mas a impudente familiaridade do
amante carnal.
A ficção religiosa também faz uso do sexo para dar
interesse à leitura pública, a fina desculpa sendo que, se o romance e a
religião forem entretecidos compondo uma história, a pessoa comum que não leria
um livro puramente religioso lerá a história, e assim se defrontará com o
Evangelho. Deixando de lado o fato de que, na maioria, os romancistas religiosos
modernos são amadores de talento caseiro, sendo raros os capazes de escrever
uma única linha de boa literatura, todo o conceito subjacente ao romance
religioso é errôneo. Os impulsos libidinosos e os suaves e profundos movimentos
do Espírito são diametralmente opostos uns aos outros. A noção de que Eros
pode ser induzido a servir de assistente do Senhor da glória é ultrajante. A
película "cristã" que procura atrair espectadores retratando cenas de
amor carnal em sua propaganda é completamente infiel à religião de Cristo. Só
quem for espiritualmente cego se deixará levar por isso.
A moda atual de usar beleza física e personalidades
brilhantes na promoção religiosa é outra manifestação da influência do espírito
romântico na igreja. O balanceio rítmico, o sorriso plástico, e a voz muito,
mas muito alegre mesmo, denunciam a frivolidade religiosa mundana. O executante
aprendeu a sua técnica da tela da TV, mas não a apreendeu suficientemente bem
para ter sucesso no campo profissional. Daí, ele traz a sua produção inepta
para o lugar santo e a mascateia,
oferecendo-a aos cristãos doentios
e inferiores que andam à procura de alguma coisa que os
divirta enquanto ficarem dentro dos limites dos costumes sócio-religiosos
vigentes.
Se meu linguajar parece severo, é bom lembrar que não
o dirijo a nenhuma pessoa individualmente. Para com o mundo perdido dos homens,
só tenho uma grande compaixão e o desejo de que todos venham a arrepender-se.
Pelos cristãos cuja liderança vigorosa mas equivocada tem procurado atrair a
igreja moderna do altar de |eová para os altares do erro, sinto genuíno amor e
simpatia. Quero ser o último a ofendê-los e o primeiro a perdoá-los,
lembrando-me dos meus pecados passados e da minha necessidade de misericórdia,
bem como da minha fraqueza pessoal e da minha tendência natural para o pecado e
o erro. A jumenta de Balaão foi usada por Deus para repreender um profeta. Daí
parece que Deus não exige perfeição no instrumento que Ele emprega para
advertir e exortar o Seu povo.
Quando as ovelhas de Deus estão em perigo, o pastor
não deve contemplar as estrelas e meditar sobre temas "inspiradores".
É obrigado a agarrar sua arma e a correr em defesa delas. Quando as
circunstâncias o exigirem, o amor poderá usar a espada, embora por sua natureza
deva, em vez disso, ligar o coração quebrantado e atender os feridos. É tempo
de o profeta e o vidente se fazerem ouvir e sentir outra vez. Nas últimas três
décadas a timidez disfarçada de humildade tem ficado encolhida no seu canto
enquanto a qualidade do cristianismo evangélico vem piorando ano após ano. Até
quando. Senhor, até quando?
Autor:
A.W.Tozer – Extraído do Livro “O Poder de Deus”
Nota do Blog: Se quando Tozer escreveu isso, os maiores problemas eram o rádio e a TV, imaginemos, queridos irmãos e irmãs, o que ele escreveria hoje com a existência da internet e dos smart-phones.
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