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Quem é, e que é Deus? A melhor definição é a que se encontra
no Catecismo de Westminster: "Deus é Espírito, infinito, eterno
e imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade
e verdade." A definição bíblica pode formular-se pelo estudo dos
nomes de Deus. O "nome" de Deus, nas Escrituras, significa mais
do que uma combinação de sons; representa seu caráter revelado. Deus
revela-se a si mesmo fazendo-se conhecer ou proclamando o seu nome. (Êxo.
6:3; 33:19; 34:5, 6.) Adorar a Deus é invocar seu nome (Gên. 12:8);
temê-lo (Deut. 28:58); louvá-lo (2 Sam. 22:50); glorificá-lo (Sal. 86:9); é
sacrilégio tomar seu nome em vão. (Êxo. 20:7), ou profaná-lo ou
blasfemá-lo (Lev. 18:21; 24:16). Reverenciar a Deus é santificar ou
bendizer seu nome (Mat. 6:9). O nome do Senhor defende o seu povo (Sal.
20:1), e por amor do seu nome não os abandonará (1 Sam. 12:22).
Os seguintes nomes de Deus são os mais comuns que encontramos
nas Escrituras:
(a) Elohim (traduzido "Deus".) Esta palavra emprega-se sempre
que sejam descritos ou implícitos o poder criativo e a onipotência de
Deus. Elohim é o Deus-Criador. A forma plural significa a plenitude de poder e
representa a trindade.
(b) Jeová (traduzido "Senhor" na versão de Almeida.) Elohim,
o Deus-Criador, não permanece alheio às suas criaturas.
Observando Deus a necessidade entre os homens, desceu para ajudá-los
e salvá-los; ao assumir esta relação, ele revela-se a si mesmo
como Jeová , o Deus da Aliança. O nome JEOVÁ tem sua origem no
verbo SER e inclui os três tempos desse verbo — passado, presente
e futuro. O nome, portanto significa: Ele que era, que é e que há
de ser; em outras palavras, o Eterno. Visto que Jeová é o Deus que
se revela a si mesmo ao homem, o nome significa: Eu me manifestei,
me manifesto, e ainda me manifestarei.
O que Deus opera a favor de seu povo acha expressão nos seus nomes, e
ao experimentar o povo a sua graça, desse povo então pode dizer-se:
"conhecem o seu nome." A relação entre Jeová e Israel resume-se
no uso dos nomes encontrados nos concertos entre Jeová e seu povo. Aos que
jazem em leitos de doença manifesta-se-lhes como JEOVÁ-RAFA, "o
Senhor que cura" (Êxo. 15:26). Os oprimidos pelo inimigo invocam a
JEOVÁ-NISSI, "o Senhor nossa bandeira" Êxo. 17:8-15). Os carregados
de cuidados aprendem que ele é JEOVÁ-SHALOM, "o Senhor nossa
paz" (Jui. 6:24). Os peregrinos na terra sentem a necessidade de
JEOVÁ-RA'AH, "o Senhor meu pastor" (Sal. 23:1). Aqueles que se sentem
sob condenação e necessitados da justificação, esperançosamente invocam a
JEOVÁ-TSIDKENU, "o Senhor nossa justiça" (Jer. 23:6). Aqueles
que se sentem desamparados aprendem que ele é JEOVÁ-JIREH, "o Senhor
que provê" (Gên. 22:14). E quando o reino de Deus se houver concretizado
na terra, será ele conhecido como JEOVÁ-SHAMMAH, "o Senhor está ali"
(Ezeq. 48:35).
(c) El (Deus) é usado em certas combinações: EL-ELYON (Gên. 14:18-20), o
"Deus altíssimo", o Deus que é exaltado sobre tudo o que se
chama deus ou deuses. EL-SHADDAI, "o Deus que é suficiente para as
necessidades do seu povo" (Êxo. 6:3). EL-OLAM, "o
eterno Deus" (Gên. 21:33). (*) N.do T. Poderia, também ter sido acrescentado o
termo Emanu-El — Deus Conosco.
(d)Adonai significa literalmente "Senhor" ou "Mestre"
e dá a idéia de governo e domínio. (Êxo. 23:17; Isa. 10:16, 33.) Por causa
do que Deus é e do que tem feito, ele exige o serviço e a lealdade do
seu povo.Este nome no Novo Testamento aplica-se ao Cristo glorificado.
(e) Pai, emprega-se tanto no Antigo como no Novo Testamento.
Em significado mais amplo o nome descreve a Deus como sendo a Fonte
de todas as coisas e Criador do homem; de maneira que, no
sentido criativo, todos podem considerar-se geração de Deus. (Atos 17:28.)
Todavia, esta relação não garante a salvação. Somente aqueles que foram
vivificados e receberam nova vida pelo seu Espírito são seus filhos no sentido
intimo da salvação. (João 1:12, 13.)
2- Crenças errôneas
Existem outras idéias extra-bíblicas acerca de Deus. Dessas, algumas
originaram-se em verdades exageradas. Algumas são deficientes; outras
pervertidas ou torcidas. Por que tomar o tempo para considerar essas
idéias? Visto que é muito difícil descrever perfeitamente o ser de Deus,
podemos, sabendo o que ele não, chegar a uma melhor compreensão do que ele
realmente é.
(a) O agnosticismo (expressão originada de duas palavras gregas que
significam "não saber") nega a capacidade humana de conhecer a Deus.
"A mente finita não pode alcançar o infinito", declara o agnóstico. Mas
o agnóstico não vê que há grande diferença entre conhecer a Deus no
sentido absoluto e conhecer algumas coisas acerca de Deus. Não podemos
compreender a Deus, isto é, conhecê-lo inteira e perfeitamente; mas podemos aprender,
isto é, ter uma concepção da sua Pessoa. "Podemos saber quem é Deus, sem
saber tudo o que ele é", escreve D. S. Clarke. "Podemos tocar a
terra embora não possamos envolvê-la com os braços. Um menino pode
conhecer a Deus enquanto o filósofo não pode descobrir todos os segredos do
Todo-poderoso." As Escrituras baseiam-se no pensamento de que é possível conhecer
a Deus; por outra parte, elas nos avisam que por agora "conhecemos em
parte". (Vide Êxo. 33:20; Jo 11:17; Rom. 11:33, 34; l Cor. 13:9-12.)
(b) O politeísmo (culto de muitos deuses) era característico das religiões
antigas e pratica-se ainda hoje em muitas terras pagãs. Baseia-se ele na idéia
de que o universo é governado, não por uma força só, mas sim por muitas, de
maneira que há um deus da água, um deus do fogo, um deus das montanhas, um
deus da guerra, etc. Foi esta a conseqüência natural do paganismo, que
endeusou os objetos finitos e as forças naturais e "adoraram e
serviram à criatura antes que o Criador" (Rom. 1:25). Abraão foi
chamado a separar-se do paganismo e a tomar-se uma testemunha do único
verdadeiro Deus; sua chamada foi o começo da missão de Israel, a qual era
pregar o monoteísmo (o culto a um só Deus), o contrário do politeísmo das
nações vizinhas.
(c) O panteísmo (proveniente de duas palavras gregas que significam
"tudo é Deus") é o sistema de pensamento que identifica Deus com o
universo, árvores e pedras, pássaros, terra e água, répteis e homens —
todos são declarados partes de Deus, e Deus vive e expressa-se a si mesmo
através das substâncias e forças como a alma se expressa através do corpo. Como
se originou esse sistema? O que está escrito em Rom. 1:20-23 desvenda esse
mistério. Pode ser que na penumbra do passado os filósofos pagãos, havendo
perdido de vista a Deus e expulsando-o de seus corações, tenham observado
que era necessário achar alguma coisa que preenchesse o seu lugar, visto que
o homem procura sempre um objeto de culto. Para preencher o lugar
de Deus, deve haver algo tão grande quanto o próprio Deus.
Havendo Deus se retirado do mundo, por que então não fazer do mundo Deus?
Desta maneira arrazoaram os homens e assim se iniciou o culto
às montanhas e às árvores, aos homens e aos animais, e a todas as forças
da natureza. À primeira vista essa adoração da natureza tem certa feição
lógica, mas leva a uma conclusão absurda. Pois se a árvore, a flor e a estrela
são Deus, logo também o devem ser o verme, o micróbio, o tigre e também o mais
vil pecador — uma conclusão absolutamente irrazoável. O panteísmo confunde Deus
com a natureza. Mas a verdade é que o poema não é o poeta, a arte
não é o artista, a música não é o músico, e a criação não é o Criador. Uma
linda tradição judaica nos relata como Abraão observou essa distinção: Quando
Abraão começou a refletir sobre a natureza de Deus, pensou primeiramente
que as estrelas fossem divindades por causa de seu brilho e formosura. Mas
quando percebeu que a lua as excedia em brilho, concluiu então que a
lua era divindade. A luz da lua, porém, desvaneceu-se ante a luz
do sol e este fato o fez pensar que este último era a Divindade.
No entanto, à noite o sol também desapareceu. "Deve existir algo
no mundo maior do que estas constelações", pensou Abraão. Desta maneira,
do culto à natureza, ele se elevou ao culto ao Deus da natureza. As
Escrituras corrigem as idéias pervertidas do panteísmo. Ao ensinar que Deus é
revelado mediante a natureza, fazem a distinção entre Deus e a natureza. Os
panteístas dizem que Deus é o universo; a Bíblia diz que Deus criou o universo.
Onde se professa o panteísmo hoje? Primeiramente entre alguns poetas que
atribuem divindade à natureza. Em segundo lugar, é a filosofia básica da
maior parte das religiões da Índia, as quais a citam para justificar a
adoração de ídolos. "Não será a árvore, da qual se fez a imagem, uma parte
de Deus?" argumentam eles. Em terceiro lugar, a Ciência Cristã é uma
forma de panteísmo porque um dos seus fundamentos é: "Deus é tudo e tudo
é Deus." Tecnicamente falando, é panteísmo "idealista",
porque ensina que tudo é mente ou "idéia," e que, por
conseguinte, a toda matéria falta realidade.
(d) O materialismo nega qualquer distinção entre a mente e a matéria;
afirma que todas as manifestações da vida e da mente e todas as forças são
simplesmente propriedades da matéria. "O pensamento é secreção do
cérebro como a bílis é secreção do fígado"; "o homem é apenas uma
máquina", são alguns dos pensamentos prediletos dos materialistas. "O
homem é simplesmente um animal", declaram eles, pensando que com isto
poderão extinguir o conceito generalizado acerca da superioridade do ser humano
e do seu destino divino. Essa teoria é tão absurda que quase não merece
refutação. No entanto, em dezenas de universidades, em centenas de
novelas, e de muitos outros modos, discute-se e aceita-se a idéia de que
o homem é animal e máquina; que não tem responsabilidade por
seus atos e que não existe o bem nem o mal. Para refutar esse erro vamos
observar:
1) A nossa consciência nos afirma que somos algo mais do que matéria e que
somos diferentes das árvores e das pedras. Um grama de bom senso
neste caso vale mais que uma tonelada de filosofia. Conta-se que
Daniel O'Connell, orador irlandês, certa vez se encontrou com uma
velha irlandesa, temida por sua linguagem causticante e seu
vocabulário blasfemo. O orador, no encontro com a velha, cobriu-a
com verdadeira salva de termos trigonométricos: "Você
miserável rombóide", gritou ele, "você, hipotenusa sem
escrúpulo! Todos que a conhecem sabem que você guarda um paralelogramo em
sua casa", e assim por diante continuou ele até que deixou a pobre
mulher confusa e perplexa. Da mesma maneira os filósofos
modernos tentariam assustar-nos com palavras ostentosas. Mas o erro
não se transforma em verdade somente porque se expressa em
palavras multissilábicas.
2) A experiência e a observação demonstram que a vida procede
unicamente de vida já existente e, por conseguinte, a vida que existe
neste mundo teve sua causa em vida idêntica. Nunca se deu um caso em que a vida
procedesse de substância morta. Há alguns anos, certos pesquisadores cientistas
concluíram que haviam conseguido esse fenômeno, mas ao ser descoberta a
presença de micróbios no ar, a sua teoria caiu por terra!
3) A evidência de uma inteligência superior e desígnio no universo refutam
o materialismo cego.
4) Na hipótese de que o homem seja apenas máquina, mesmo assim a máquina
não se faz por si mesma. A máquina não produziu o inventor, mas o inventor
criou a máquina. O mal do materialismo está no fato de que destrói os
fundamentos da moralidade. Pois se o homem fosse apenas máquina, então não
seria responsável por seus atos. Conseqüentemente, não podemos
tratar de nobre ao herói, nem de mau ao homem vil, pois não é capaz
de agir de outra maneira. Portanto, um homem não pode condenar
outro, como a serra circular não pode dizer à guilhotina: "Como
pode você ser tão cruel?" Qual é o antídoto para o materialismo? O
antídoto é o Evangelho pregado com demonstração e poder do Espírito
acompanhado dos sinais.
(e) O deísmo admite que haja um Deus pessoal, que criou o mundo; mas
insiste em que, depois da criação, Deus o entregou para ser governado
pelas leis naturais. Em outras palavras, ele deu corda ao mundo como quem
dá corda a um relógio e o deixou sem mais cuidado da sua parte. Dessa
maneira não seria possível haver nenhuma revelação e nenhum milagre. Esse
sistema, às vezes, chama-se racionalismo, porque eleva a razão à posição
de supremo guia em assuntos de religião; também se descreve como
religião natural, como oposta à religião revelada. Tal sistema é
refutado pelas evidências da inspiração da Bíblia e as evidências
das obras de Deus na história. A idéia acerca de Deus, propagada pelo
deísta, é unilateral. As Escrituras ensinam duas importantes verdades
concernentes à relação de Deus para com o mundo: primeira, sua transcendência,
que significa sua separação do mundo e do homem e sua exaltação sobre eles.
(Isa. 6:1); segunda, sua imanência, que significa sua presença no mundo e sua
aproximação do homem (Atos 17:28; Efé. 4:6). O deísmo acentua demais a primeira
verdade enquanto o panteísmo encarece demais a segunda. As Escrituras
apresentam a idéia verdadeira e absoluta: Deus, de fato, está separado
do mundo e acima do mundo; por outro lado, ele está no mundo. Ele enviou
seu Filho para estar conosco, e o Filho enviou o Espírito Santo para estar em
nós. Desta maneira a doutrina da Trindade evita os dois extremos. à pergunta,
"Está Deus separado do mundo ou está no mundo?" a Bíblia responde:
"Ele está tanto separado do mundo como também está no mundo."
(**)
Retirado
do Livro: Conhecendo as Doutrinas da Bíblia
Myer
Pearlman - Editora Vida, 2006
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