Para aqueles que estão acreditando que
os “retetés” são manifestações do Espírito Santo, recomendo que leiam este
artigo até o fim.
Paul Gowdy – Ex-pastor da Vineyard em
Toronto
Tradução: João A. de Souza filho
Fonte: www.pastorjoao.com.br
Levei nove anos até criar coragem e escrever este
relato. Demorei porque não tinha convicção de que seria correto falar sobre as
fraquezas do corpo de Cristo publicamente. Em segundo, porque tinha que fazer
uma jornada espiritual de busca em minha alma e me convencer de que, o que havia ocorrido na Igreja
Aeroporto de Toronto foi ruim ou pelo menos pior do que bom.
Durante alguns anos falei da experiência de Toronto como uma bênção
misturada. Penso que James A. Beverly o chamou assim em seu livro “Risada
Santa” e a “Bênção de Toronto 1994”. Hoje diria que foi uma mistura de
maldição, concluindo que qualquer coisa boa que alguém recebeu através desta
experiência pessoal é enormemente ultrapassada pela gravidade do mal e do
engano satânico. Aqui residia meu grande dilema.
Tento viver a vida cristã no temor do Senhor e Jesus
exortou-nos que um dos pecados sem perdão era a blasfêmia contra o Espírito
Santo, isto é, atribuir a Satanás o que é de fato uma obra de Deus. Não quero
correr o risco de admitir que a bênção de Toronto era de Deus ou de Satanás,
mas creio que Satanás usou esta experiência para cegar as pessoas sobre as
doutrinas históricas de Deus, em que o fruto cresce ao lado de uma vida de
arrependimento, pois as pessoas não puseram a prova aquelas manifestações para
saber se eram mesmo de Deus ou de espíritos enganadores, e não testaram para
saber se as profecias eram mesmo de Deus.
Depois de três anos fazendo parte do núcleo da
bênção de Toronto nossa Igreja Vineyard em Scarborough ao leste de Toronto, praticamente se auto-destruiu.
Devoramo-nos uns aos outros com fofocas, falando mal pelas costas, com
divisões, partidarismo, criticas ferrenhas uns dos outros, etc. Depois de três
anos “inundados” orando por pessoas, sacudindo-nos, rolando no chão, rindo,
rugindo, rosnando, latindo, ministrando na igreja Internacional do Aeroporto de
Toronto, fazendo parte de
sua equipe de oração, liderando o louvor e a adoração naquele local,
praticamente vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os crentes
mais enganados que conheci. Lembro-me de haver dito ao meu amigo e pastor
principal da igreja de Vineyard de Scaraborough em 1997 de que, desde que a
bênção de Toronto chegou, ficamos esfacelados. Ele concordou.
Minha experiência é de que as manifestações dos
dons espirituais de 1 Coríntios 12 eram mais comuns em nossas reuniões antes de
Janeiro de 1994 (quando começou a bênção de Toronto) do que durante o período
da suposta visitação do Espírito Santo.
No período de 1992-1993 quando orávamos pelas
pessoas experimentávamos o que chamo de a verdadeira profecia, libertação e
graça vindas de nosso Senhor. Depois que se iniciou a bênção de Toronto, os
períodos de ministração mudaram, e as únicas orações que ouvíamos eram: “Mais, Senhor”; com gritos de “fogo!”,
sacudidelas esquisitas do corpo, e expressões de “oh! uuu! iehh”.
Em 20 de janeiro de 1994 quinze pessoas de nossa
igreja foram ouvir Randy Clark, pastor da Igreja Vineyard na Igreja do
Aeroporto de Toronto. John Arnot (pastor da igreja do aeroporto) convidou-nos
para ir até lá. Ele nos disse que Randy havia estado nas reuniões de Rodney
Howard Browne e que a coisa estourou em sua igreja nas semanas seguintes. John
esperava que algo acontecesse também entre nós. Ficamos felizes em nos dirigir
até lá. Tínhamos uma igreja noutra localidade que havia começado em 1992. Era uma
igreja do centro de Scaraborough, ligada ao grupo Vineyard, mas bem a leste da
Igreja do Aeroporto. Éramos uma família grande e alegre. E porque éramos poucos
tínhamos reuniões especiais, conferencias, etc.
No ano anterior a maioria de nossos líderes participou
de uma curta viagem missionária à Nicarágua. Na ocasião gozávamos de muita
comunhão uns com os outros. Desde que deixei de fazer parte das igrejas
Vineyard li muitos comentários e análises críticas. Alguns escreveram que a
bênção de Toronto era uma grande conspiração que trazia heresia ao corpo de
Cristo. Minha convicção é de que a heresia e a apostasia são apenas o
resultado, mas nada do que aconteceu ali era intencional. Estou convencido de
que os líderes das igrejas Vineyard são pessoas sérias que experimentaram um
novo nascimento, amam o Senhor, mas caíram no laço do engano. Não amou o Senhor
o suficiente para guardar os seus mandamentos. Fracassaram por não obedecer as
escrituras e se desviaram porque anelavam algo maior e grandioso, mais empolgante
e dinâmico. Eu também cometi este pecado. Preguei sobre esta renovação na
Coréia, no Reino Unido, nos Estados Unidos e aqui no Canadá, e estou
profundamente arrependido ao escrever este relato, e peço-lhes que vocês, a
noiva e o corpo de Cristo me perdoem. Especialmente os pentecostais e
carismáticos, pois todos fazem parte de minha família teológica.
Sou um crente “evangelical”, sempre o fui e jamais
cri que os dons espirituais cessaram no fim da era apostólica. Creio que minhas
raízes evangélicas (minha família é de Batistas e eu tive uma experiência de
conversão e novo nascimento na igreja Presbiteriana) começaram a abrir os meus
olhos para os problemas com a chamada renovação. Hoje, olhando pra trás fico me
perguntando como fiquei tão cego assim? Eu via as pessoas imitando cachorros,
fazendo de conta que urinavam nas colunas da Igreja do Aeroporto. Observava as
pessoas agirem como animais latindo, rugindo, cacarejando, fazendo de contas
que voavam, como se asas tivessem, comportando-se como bêbados, entoando
cânticos “sem pé nem cabeça”, isto é, sem sentido algum. Hoje fico perplexo em
pensar que eu aceitava tais coisas como manifestações do Espírito Santo. Era
algo irreverente e blasfemo ao Espírito Santo da Bíblia.
Naquele tempo pensava que, enquanto não ensinassem
qualquer coisa que violasse as escrituras, o que experimentávamos e víamos
podia ser encaixado no campo do que chamamos de exótico. É um zumbido de
manifestações que não encontram justificativas na perspectiva bíblica.
Ensinaram-nos nas pregações que tínhamos apenas duas opções: uma enfermaria
pulsando a vida (de bebês) em meio a fraldas sujas e crianças chorando ou o
cemitério, onde tudo está em ordem, mas só há mortos. Pastor jovem e
inexperiente, optei pela vida no caos. Não percebia que Deus quer que
amadureçamos e que cresçamos nele. Fiquei perturbado com a palavra profética
que veio através de Carol Arnot (esposa do líder em Toronto), relatando-nos que
tivera uma experiência de noiva ao ser conduzida à presença de Jesus. Ela afirmou
que o que experimentou era muito melhor que sexo! Aquilo me perturbou e comecei
a me perguntar: como alguém pode comparar o amor de Deus ao sexo?
Quando começamos a suspeitar de que os demônios
estavam à vontade em nossos cultos, John Arnot ensinava que devíamos nos
perguntar se eles estavam chegando ou saindo. Se estiver saindo deles, está
bem! John defendia o caos afirmando que não devíamos ter medo de sermos
enganados, pois se havíamos pedido ao Espírito Santo para nos encher; como
Satanás poderia nos enganar?
Isto deixaria o diabo muito forte e Deus muito
fraco. Ele afirmava que precisávamos ter mais fé num grande Deus que nos
protegia do que num grande diabo que nos enganaria.
Tais palavras eram convincentes, mas totalmente
contrárias às escrituras, pois Jesus, Paulo, Pedro e João alertaram-nos sobre o
poder dos espíritos enganadores, especialmente nos últimos dias. Mesmo assim,
não devotamos amor a Deus para lhe obedecer a palavra e, como conseqüência,
abrimo-nos a ação de espíritos mentirosos. Que Deus tenha misericórdia de nós!
Finalmente a ficha caiu quando eu rolava pelo chão,
certa noite, “bêbado no Espírito”, como costumávamos dizer, e ali, cantando e
rolando no chão, comecei a cantar uma canção de ninar: “Maria tinha um cordeiro
e seu pelo era mais alvo que a neve”. Cantei esta música infantil de maneira
debochada e imediatamente alguma coisa em meu coração sussurrou que aquilo era
um demônio [1]. Imediatamente me arrependi e fiquei chocado com aquela
experiência. Como um demônio entrou em mim? Eu amava a Deus? Não era zeloso
pelas coisas de Deus? Não era totalmente louco por Jesus? Percebi que um
espírito imundo acabara de se manifestar através de minha vida e era culpado de
um grande pecado. Depois disto me afastei da Igreja do Aeroporto (TACF). Não
tinha convicção de que deveria denunciar aquelas experiências, mas senti que
tínhamos fracassado em pastorear a bênção.
Depois que parei de freqüentar o TACF – Toronto
Airport Church – tive que pastorear as conseqüências ou os frutos dali. Exemplo
disto foi quando algumas pessoas voltaram de uma reunião e nos perguntaram se
havíamos recebido a espada dourada do Senhor. Perguntei-lhes de que se tratava,
imaginando que alguma palavra profética tivesse sido liberada em relação as
escrituras, mas me responderam: “Não, não é a Bíblia; é uma espada invisível
que somente os verdadeiramente puros poderão receber. Se for tomada de maneira
errada, então será morto pelo Senhor. Mas, se você for santo o suficiente para
recebê-la, então você poderá desembainhá-la pois ela cura Aids, câncer, etc. e
produz salvação. A pessoa deve fazer gestos de ataque, imaginando ter em suas
mãos esta espada invisível, avançando sobre as pessoas enquanto está em oração!
Pensei: além do engano, a Igreja Aeroporto passou a fazer parte dos desenhos
animados!
Esta “revelação” foi recebida pela Carol Arnott e
depois repassada aos que eram mais santos. O mesmo aconteceu com as obturações
de ouro. Pessoas de nossa congregação abriam a boca umas para as outras
procurando os dentes de ouro que Deus colocara ali, para provar o quanto nos
amava. Durante os anos que ali fiquei só ouvi uma vez uma mensagem de
arrependimento pregada por um conferencista de Hong Kong, Jack Pullinger. A
mensagem passou alto, bem acima de nossas cabeças, como um balão de gás; não
estávamos ali para nos arrepender, e sim para fazer festa ao Senhor!
Depois de um ano na “bênção” preguei num encontro
de pastores e falei: “Amigos, temos nos sacudido, nos arrastado pelo chão,
rolamos por terra, rimos, choramos e adquirimos as camisetas da igreja. Mas não
temos avivamento, nem salvação, nem frutos, nem aumento de evangelização, por
isso, qual é a graça?”. Fui repreendido – afinal, quem era eu para anelar
frutos quando o Senhor estava curando seu atribulado povo? Durante anos éramos
legalistas, e Deus agora estava restaurando as feridas libertando-nos do
legalismo. Aconselharam-me a não forçar o Senhor que os resultados apareceriam
no temo certo.
Eu sabia que isto estava errado, pois o
Senhor ordenou fazer discípulos de todas as nações. O argumento era: temos
direito a um ano sabático, pois, quem sabe por quanto tempo Deus fará coisas
novas e diferentes!
Por fim, não comentei a controvertida questão da
ordenação de mulheres. Pessoalmente acredito, pelas escrituras, que as mulheres
não devem ser pastoras ou presbíteras numa assembléia local. Eu poderia estar
errado quanto a isto e existe muito debate na igreja a este respeito, e esta
era minha convicção, mas as igrejas Vineyard estavam ordenando todas as esposas
de pastores para serem co-pastoras com eles. Sou a favor de mulheres no
ministério, mas creio que o papel do ancião/presbítero/pastor local foi
reservado aos homens. Não fui eu quem escreveu a Bíblia, mas pela graça de Deus
quero obedecer-lha daqui em diante.
Esta é minha história. Poderia continuar
apresentando farta documentação dos excessos, loucuras, extravagâncias e
pecados. Cantamos sobre o exército de Joel e o avivamento de bilhões como se
fossem os dez mandamentos; e como sempre, parece que o avivamento já está
chegando dobrando a esquina. No próximo mês, no próximo ano, etc. Jesus falou
que, quando o Filho do homem voltar, encontrará fé na terra? Esta é a mensagem
dominadora que tem sido ensinada em todo movimento profético, espiritual,
especialmente do Vineyard. Às vezes imagino que eles pensam que vão dominar o
mundo todo! Mas foi lá no Vineyard que aprendi uma frase de Paulo de que não
devemos ir além da palavra escrita.
Concluindo, quero lamentar o dano, que eu
pessoalmente perpetrei ensinando coisas que não são bíblicas. Eu me arrependo
diante de vocês e diante de Deus. Eu não testei os espíritos quando a palavra
ordena que assim seja feito. Todos os que estavam ali quando estas coisas
começaram a acontecer sabem que o que escrevo é a verdade. Podem ter conclusões
diferentes, especialmente se ainda promovem o “rio”.
Aos que estão no “rio” eu exorto; nadem para fora,
existem coisas vivas na água que irão lhe atacar! Amo as pessoas da Igreja
Aeroporto e o movimento Vineyard, mas penso que temos muitas contas a prestar;
o Senhor lhes abrirá os olhos qualquer dia desses. Imagino que quando esta
carta for publicada serei bombardeado por cartas de ambos os lados, alguns me
condenando por ainda crer no ministério do Espírito Santo e andando no engano e
alguns amigos antigos condenando-me por expor a sujeira ou por ser negativo com
respeito a unção do Senhor. Bem, o Senhor conhece meu coração e por sua graça
haverá de me guiar a toda verdade, pois quero conhecer a Jesus Cristo o
crucificado.
Se você acha que estou no erro ore por mim para que
o Senhor me abra os olhos, pois quero estudar a palavra e me tornar varão
aprovado. Peço a todos os que lerem esta carta que orem para que o Senhor abra
os olhos daqueles que estão sendo enganados. Quer sejamos líderes ou seguidores,
somos amados de Deus e ele é um Deus perdoador. Ele afirma que se confessarmos
nossos pecados ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e nos
purificar de toda injustiça.
Creio que somos como a igreja de Laodicéia. Pensamos
que somos ricos, prósperos e sem necessidade alguma, e, no entanto não
percebemos que estamos cegos e nus. Precisamos levar a sério o conselho de
Jesus comprando ouro refinado no fogo (que fala do sofrimento e não de
espíritos enganadores), vestiduras brancas para cobrir nossa nudez e colírio
para os olhos para poder ver outra vez.
O Senhor nos chama ao arrependimento, e graças ao
Senhor pelo que ele é, pois nos conduzirá e nos restaurará ao Pai. Se Deus me
perdoou e abriu os meus olhos então poderá agir a favor de todos os que estão
no engano.
Termino com o alerta de Paulo que permaneçamos
firmes para não tropeçarmos em coisa alguma.
Sinceramente,
Paul Gowdy
Paul Gowdy
Esta carta foi traduzida e publicada com a autorização de Paul Gowdy e pode ser lida na integra nos sites: www.revivalschool.com ou www.discernment-ministries.org/TheTorontoDeception.htm (site de Paul Gowdy).
Nota:
[1] Ele se refere a canções de Jardim da Infância, ou Nursery Rhyme, em que, nos contos de fada as crianças aprendem a falar cantando linguagens infantis, e refere-se especialmente a Mary had a little Lamb, uma das mais conhecidas.
[1] Ele se refere a canções de Jardim da Infância, ou Nursery Rhyme, em que, nos contos de fada as crianças aprendem a falar cantando linguagens infantis, e refere-se especialmente a Mary had a little Lamb, uma das mais conhecidas.
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